" As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas". (Fernando Pessoa)

LETARGIA DO SER...


Nos teus olhos há versos conjugados ao arrepio das fissuras que te rasgam o coração.
Circulam mundos lá fora onde viajas de pálpebras fechadas, entrecruzas as pernas sobre o lençol que te adormece a pele, há um sono de flores na jarra castanha que jaz abandonada junto do livro ainda por ler. Na memória permanece o calor do quarto habitado no tempo exacto em que eras personagem de destaque… «é o destino», dizes com os lábios humedecidos por uma lágrima que se soltou, sabes os nomes dos ventos que espreitam em todas as madrugadas como se entoassem o refrão duma música cíclica no contratempo. Porque faz frio não podes ir apanhar as folhas amarelecidas dos álamos e perdes outro momento, outro momento efémero como o abraço que demora a chegar. Amarrotas o lençol contra o peito… e adormeces. 

(Francisco Valverde Arsénio)