COMOVES-ME

Comoves-me quando vens de madrugada, carregando no peito uma estrela agonizante e ouço o restolhar da tristeza a galgar as margens do teu coração.Comoves-me quando me olhas e, em silêncio, me pedes para ficar porque a chuva que cai lá fora te encharca o corpo mas não te lava a mágoa de te saberes só.Comoves-me quando me abraças e docemente me embalas, sabendo eu que é o meu colo que procuras.Comoves-me quando os teus lábios frios e descoloridos procuram os meus, o teu corpo encontra o caminho do meu, inventando e descobrindo novas rotas com a urgência de uma primeira vez.Comoves-me quando ardes na ousadia dos meus lábios, no sussurro da minha voz e te perdes nos meus braços para te reencontrares. Comoves-me mesmo quando partes sem dizer adeus.

(Clara Maria Barata)