" As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas". (Fernando Pessoa)

ESCREVO


escrevo.
escrevo as linhas do silêncio.
mas os pulsos estão secos, ressequidos pelo desejo da pauta de outrora.
o amor caiu e só o corpo é confissão aberta, em relativa existência,
almejando o ardor da sombra que consome os resquícios da memória.

terrena?
terrena é a realidade dos braços, a fronteira que previne a tentação do preto,
repensando o vestir do hábito.
já terna é a orla das faúlhas, o percurso da chama na pele,
rastilho das ilusões.

escrevo.
escrevo o reconhecimento da melodia, os poros que rasgam as notas.
mas as bocas são horas infecundas de limites que vergam a ausência da esperança.
já ninguém semeia ou colhe as brisas vespertinas.

e eu escrevo.
escrevo o trilho do pó, as cinzas dos lábios.

(Vicente Ferreira da Silva)