Gosto de ti como quem gosta de alguém que não conhece ou conhece desconhecendo. Gosto de ti pelo que calas e pelo que dizes, gosto de ti não porque, mas apesar de… gosto dos nomes dos escritores que me aconselhas, mais do que o conteúdo inserto nas folhas dos seus livros. Gosto de ti quando navegas nessa tua galáxia tão perto e tão longe, na tua caminhada entre poemas e prosas, entre transições imutáveis. Tens uma alma que transcende o perímetro do teu corpo, uma alma simples mas não simplista ou simplória, uma alma tão grande que cabe em cada poro. Li algures num lugar inserto, a frase: «escreves como um Deus», pensei em ti debruçada sobre uma mesa cheia de palavras com tantos poemas e prosas em branco por escrever esperando o sim da tua caneta. Sim, o sim da tua caneta iluminada que partilha contigo o dom de ver mais além, para lá da tal galáxia onde habitas e da sombra das pedras milenares que não se perde no tempo. Deslumbras-me com a mesma intensidade do colorido que tem a primavera, como se fosses uma aguarela tingindo o vazio das folhas brancas do caderno e lhes emprestasses o perfume aquando da concepção do poema. Atrevo-me a dizer que a lua nova acontece porque o céu precisa de ti para se encher de estrelas. Gosto de ti porque gosto da perfeição imperfeita.
(Francisco Valverde Arsénio)