" As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas". (Fernando Pessoa)

GOSTO DE TI


Gosto de ti como quem gosta de alguém que não conhece ou conhece desconhecendo. Gosto de ti pelo que calas e pelo que dizes, gosto de ti não porque, mas apesar de… gosto dos nomes dos escritores que me aconselhas, mais do que o conteúdo inserto nas folhas dos seus livros. Gosto de ti quando navegas nessa tua galáxia tão perto e tão longe, na tua caminhada entre poemas e prosas, entre transições imutáveis. Tens uma alma que transcende o perímetro do teu corpo, uma alma simples mas não simplista ou simplória, uma alma tão grande que cabe em cada poro. Li algures num lugar inserto, a frase: «escreves como um Deus», pensei em ti debruçada sobre uma mesa cheia de palavras com tantos poemas e prosas em branco por escrever esperando o sim da tua caneta. Sim, o sim da tua caneta iluminada que partilha contigo o dom de ver mais além, para lá da tal galáxia onde habitas e da sombra das pedras milenares que não se perde no tempo. Deslumbras-me com a mesma intensidade do colorido que tem a primavera, como se fosses uma aguarela tingindo o vazio das folhas brancas do caderno e lhes emprestasses o perfume aquando da concepção do poema. Atrevo-me a dizer que a lua nova acontece porque o céu precisa de ti para se encher de estrelas. Gosto de ti porque gosto da perfeição imperfeita.

(Francisco Valverde Arsénio)