Este amanhecer traz até mim um alvor fresco. Debruço-me na aurora… pensativo… não sei de quantas cores se veste o amor quando o riso se cala na madrugada e eu pouso nos teus lábios os lábios que te ofereço. As palavras foram levadas numa lufada de vento porque conheces apenas o que pareço e não o que sou, não sonhas sequer se sou alabastro, violeta ou o azul das cores frias; laranja fogo, vermelho ou amarelo do sol do meio-dia das cores quentes. Por momentos queria ser uma pedra a rolar no tempo e me entregar nos teus braços, ser a porta entreaberta que te espera ou o rosto que aparece desenhado nas nuvens distantes. Eu sei… não sou mais que uma estrada que toma os tiques das árvores que rodopiam ao encontro dos passos, olhamo-nos agora noutra dimensão, tomamos formas fractais para nos confundirmos com a natureza, transformamo-nos em objectos não calculáveis pela ciência, rompemos com o matematicamente correcto adjectivado nas noções de geometria euclidiana. Debruço-me na aurora… pensativo… este amanhecer traz até mim resquícios dum amor esculpido em sonhos… apenas em sonhos.
(Francisco Valverde Arsénio)