Que sabes tu do que escrevo, do som das ruas por onde passo, dos canaviais que me habitam ou dos universos que me embriagam. Que sabes tu dos meus tempos cansados, das paredes caiadas e vazias, do papel, da borracha e da caneta, dos meus amores… sim, que sabes tu das paixões que tive, das memórias e dos rios que desaguavam nos ventos de chuva. Que sabes tu das árvores onde esculpi amores, da guitarra que falava por mim, da velha corcunda que vendia paladares nas escadas do jardim. Mas se sabes, diz-me porque a carne se sobrepõe às vontades da sensatez, porque é que os meus lábios teimam em soletrar o teu nome e o rio agenda todos os nossos encontros. Hoje vi à venda mirtilos azuis e lembrei-me de uma canção que não fiz para ti mas que falava da liberdade dos pássaros e do cantar das palavras mudas quando as mãos sussurravam em toques subtis. Que sabes tu de mim que eu ainda não sei?
(Francisco Valverde Arsénio)