Apertei os sapatos em terra para caminhar pelas ondas que me levaram ao coração livre dos pássaros, ao imenso espaço das gaivotas, às searas do sal, às colinas do mar onde se fabrica o azul.
Depois, a técnica foi gostar. E amar. Amar muito, sempre.
E sempre sem esperar nada de ninguém. Sem apascentar promessas, sem duvidar de mim. Crescer pelos ombros, pelos olhos, pelas curvas da distância.
O país do amor não tem horizontes, nem sequer tem horas, o país do amor não possui caminhos. Está-se lá, apenas. Vive-se lá, onde todas as perdas são possíveis para ganhar alguma coisa de que precisamos, e sem precisar de gostar dela.
As águas do amor são mais humildes que transparentes, e a elementar serpente que as atravessa, e que arrulha como uma pomba, é na realidade uma pomba se tu não quiseres que seja uma serpente.
Eu não te invento nas canções, não te beijo com a saudade que vive na memória das ruínas, nem espero por ti com a queixa escondida no peito frio das muralhas.
Onde estou, espero por ti e amo-te. Olho para ti, e o meu olhar beija-te. Canto, e é a ti que canto.
(Joaquim Pessoa)