Pedi ao sono um pouco mais de tempo, que me deixasse olhar para dentro de mim antes de me aconchegar na maciez dos lençóis. E fiquei assim com o sono espreitando os meus pensamentos.
Fechei os olhos e não sei onde estive, apenas que revisitei um outro sonho ocorrido no tempo dos sonhos… e ali fiquei parado no meio da tempestade desalinhada que fazia sombras nas paredes do quarto.
Neste lugar sei que te encontro, tenho-te aqui num esticar de braços enquanto lá fora imagino o céu vazio de estrelas, elas correram todas para te iluminar e dar aquele ar prateado ao teu sorriso. O sono permitiu que te revisitasse tal como o fez noutros lugares onde te levei a voar por entre as nuvens naquelas manhãs frias de inverno. Se me perco em ti, sei que a noite não vai ser suficientemente longa, não tarda nada o sol rasga a negritude das horas e obriga-me a dar-te um beijo de despedida. E eu… eu agarro-me no desespero do tempo para que fiques.
Quis ficar aqui a sonhar-te mas não a repetir o mesmo caminho.
Quero-te como se duma primeira vez se tratasse, sentir-te entre as palavras prenhes de sentidos e sentimentos que só tu sabes pronunciar. Sentir-te por entre as flores que marejam os campos planos perdidos entre a terra e o céu.
Ajuda-me a sonhar-te onde as nossas bocas desorientadas se perdem em movimentos inquietos; as mãos irrequietas e enlouquecidas guiam o movimento dos corpos sedentos e se tacteiam mutuamente… e se perdem para lá dos sentidos.
Ajuda-me a sonhar-te num sorriso cúmplice e desajeitado, em que os olhos ficam calados pelos lábios naquele toque tão nosso onde as únicas palavras são de amor mas que não se escrevem.
Estou aqui acordado a sonhar-te, mas se estenderes os lábios saberás que estou sempre à distância dum beijo.
Podes adormecer enquanto te sonho, a minha mão segurará todos os medos e quero acordar-te com o mesmo beijo com que adormeceste.
(Francisco Valverde Arsénio)