" As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas". (Fernando Pessoa)

O NADA POR ENTRE OS DEDOS


Quis procurar-te
entre o branco dos barcos
e o azul da cidade,
entre as pedras gastas da calçada
e o verde do meu jardim,
entre as tuas ausências
e as dormências da lua nova,
entre o eco dos caminhos
e a dor mitigada dos meus olhos.

Quis procurar-te
no espelho
e na porta que fechaste,
no abandono do meu corpo
e nas áridas dunas da minha cama,
num sopro de vento
e no chilrear das andorinhas,
no amor inacabado
e no lugar vazio dos meus braços,
na escarpa dum precipício
e no longínquo horizonte.

Quis procurar-te dentro de mim
e encontrei uma mão cheia de nada.

(Francisco Valverde Arsénio)