Escolheste Tchaikovsky para acompanhar o bailado que o teu corpo ansiava. Colocaste duas gotas de perfume sobre a pele para que a essência penetrasse nos meus sentidos e prendeste o cabelo com uma fita cor de fogo a combinar com o carmim dos teus lábios. Num momento sôfrego mas delicado, aprisionamos o olhar, algures em nós, o desejo cantou por cima das notas do compositor, a sensualidade dos gestos descreveu cada passo em contraponto e despimo-nos mil vezes em serenata naquele quarto. Aconchegaste-te… aconcheguei-me, as bocas soletraram poemas novos, palavras ilustradas nos passos da bailarina, monólogos a dois que ousamos inventar. Os metais tocaram numa oitava abaixo para não perturbar os solistas e o violino soçobrou quando se adivinhava o epílogo. Amo-te… disseram em uníssono as teclas do piano sob as ordem da batuta do maestro.
(Francisco Valverde Arsénio)