" As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas". (Fernando Pessoa)

DIA 28


O dia depois de amanhã será o dia das artes, da escrita e da música. Dia de brilhar a gramática e a maturidade. Corpo de árvore e de mãe, sopro dos vivos que estão vivos.

Dia que mexerá no sangue, nos livros, no começo das coisas.
O dia dos que lavram, dos que colhem, o dia sim, o dia sempre, o primeiro dos dias limpos, amplos, infinitos.

Por isso, amanhã não será o dia.

Não será o prodígio. Não será a vertigem. Amanhã é a mesma ferida de hoje, sem fogo, sem cura, sem coragem.

Voto no dia depois de amanhã. Voto em cada coisa que se expõe numa aura de luz, voto no poder do amor e no poder do fogo, no âmago e no corpo da canção. Voto em tudo o que se
prolonga e se diverte. Voto na imaginação.

Voto no início e no fim dos equilíbrios. E voto na memória do futuro. Porque no dia depois de amanhã acreditarei em ti. 
em mim.

E no perfume das vozes que hoje cantam em silêncio.

(Joaquim Pessoa)