Talvez Maria, não sei e pouco importa o nome.
Digo Maria, 36 anos, aspecto jovem e dócil, deitada e abandonada no chão, um chão que devia ser outro, o que sempre terá sonhado, agora estava aqui, entregue a si própria e às desventuras da vida. Mãe sofrida e acima de tudo já vivida de sofrimentos que não merecia.
Trazia consigo não uma mala de cartão mas uma vontade de ficar, permanecer longe do mundo, um mundo que nada lhe diz, que a vê sem a olhar, que não é capaz de lhe sorrir.
Esta Maria como tantas outras apenas queria uma voz, uma palavra, um sorriso, não de tecnologia seja ela qual for, não da ciência, mas de paciência, não macas, medicina, medicamentos, mas de sentimentos.
Levantei-a, procurei ser talvez a primeira voz que realmente ouvia em tanto tempo de espera.
Conversámos sobre a vida, as dificuldades, as angústias, os sofrimentos da alma, fomos ambos capazes de sorrir um para o outro, e vejam só, acabamos a fumar um, dois cigarros.
Esta Maria acabou por ter fome e jantar, não analgésicos da alma, mas a felicidade entornada num chá quente e umas bolachas de feitas de ânimo.
Ficou feliz, derramou sobre o mundo que a tinha abandonado a sua fúria e percebeu que talvez seja possível abraçar os problemas e não morrer com eles.
Sinto uma enorme alegria por ter partilhado um pouco de mim com a Maria e por isso apenas lhe desejo que saiba encontrar sempre um afecto, bem merece, e todos temos a obrigação de lho dar, a ela e a todas as Marias.
(mariosantos.porto.outubro2011)