" As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas". (Fernando Pessoa)

A VIDA PODE NÃO NOS SORRIR, MAS NÓS QUEREMOS SORRIR PARA A VIDA


Tarde envergonhada pelo sol que teimava em fugir para longe.
Rostos fechados que apressadamente cruzam entre si pelas ruas num presente feito de desilusões.
Olhares de receio sobre um futuro que está cada vez mais ausente.
Seres que buscam a felicidade a troco de horas vividas em lugares vazios de esperança.

Unidos numa alma que se desgasta e que se sente impotente para alimentar os sonhos de todos e de cada um. Liberdade que se escapa. também ela, por entre os dedos duma realidade tecida das mentiras necessárias perante a morte que se julga próxima e inevitável.
Crianças que continuam a sorrir numa ingenuidade que nos apoquenta, jovens que vivem sonhos que sabem apenas podem durar uma noite, velhos que se sentem a dor do tempo e apenas esperam o escoar da vida.
Talvez tenha chegado o momento de darmos vida às palavras, aos afectos, aos sentimentos, e todos juntos gritarmos que somos gente, não números alinhados em fórmulas matemáticas de resultado universal.
Talvez tenha chegado o momento de juntarmos o nosso olhar e construir uma enorme e gigantesca lupa para melhor vermos a pequenez daqueles que se alimentam do nosso futuro.
Talvez tenha chegado o momento de deixarmos que a nossa alma se manifeste e nos liberte das amarras que nos impedem de sermos felizes.
A vida pode não nos sorrir, mas nós queremos sorrir para a vida.

(mariosantos.porto.setembro2011)